GABRIEL FREITAS
Sofá Desconstrução - Design Autoral
desconstrução
Diante do contexto de pandemia do ano de 2020, foi quase impossível que não tenhamos encontrado a necessidade de repensar. Desde coisas práticas, como reestruturar o modo de trabalho, até sentimentos complexos, como o medo de sair na rua, ou de voltar a se encontrar com alguém.
Desde o início desse momento, me vieram à mente as ideias de Jacques Derrida, filósofo francês pós estruturalista que tem como uma de suas principais ideias a Desconstrução, palavra que anda tão falada, mas pouco pensada. Para Derrida, o exercício de desconstrução consiste em desconfiar da verdade. Não uma desconfiança gratuita como aquela à qual nos temos acostumado, mas um exercício de desmontar a forma e procurar na sua oposição o caminho para a sustentação ou simplesmente a mudança da tese. O resultado é, assim, um pensamento em movimento: nunca parado, nunca dogmático, nunca finalizado.
Ler e reler o mundo usando os mais diversos filtros, entendendo a verdade como a soma dessas interpretações: existem os fatos ou tudo que existe é apenas interpretação? Acredito que nesse questionamento é que reside o trabalho do designer.
Olhando para a minha casa, me vi cercado de objetos que tiveram o seu uso reinterpretado infinitamente, ora para se confortar, ora para socializar. O sofá é um desses objetos.
Esse móvel há tempos teve seu uso reinterpretado, e ao precisar repensar a socialização, considerei essas mudanças. Inicialmente colocados frente a frente, simulando quase um momento tribal de roda, os sofás são hoje posicionados em frente à televisão, para que as pessoas possam estar em companhia sem precisar de fato se fazer companhia. Por isso, suas formas são retas, alinhadas paralelamente à parede, pensadas para te deixar ali por horas.
Não posso negar que sou de uma geração que se afasta cada vez mais desse ritual da televisão. Por isso, minha casa nunca teve um sofá posicionado desse jeito, o que já me rendeu algumas discussões engraçadas com meus pais.
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Com os momentos de encontro colocados em suspensão, e movido por um desejo grande de retornar a eles, entendi que precisava desconstruir este objeto. Desconstruir esse uso que nos isola para reconstruir um uso que nos conecta.
Essa desconstrução do uso extravasou para a forma, em busca de um retorno àquele primeiro uso dos sofás como “uma roda tribal”. Este processo dá origem à linha de sofás “desconstrução”, com uma forma angular que coloca as pessoas sentadas “frente a frente” para conversar, socializar, discutir, repensar.
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